Clique nos links para acessar ou fazer o download em PDF grátis. Aceite o desafio de sair de seu falso conforto psicológico e penetre no mundo miserável da cidadã Maria, (Maria da Silva) na loucura do normal professor J.C. (A conspiração de Santo Antonio do Desamparo), na real crença do descrente Arthur, (Angústias de um peixe-voador), na tragédia de uma viuvez (As brumas não são eternas). Não os veja como personagens fictícios, eles podem estar presentes em você, miseravelmente desnudo em "O infinito não tem pressa"... Depois viva intensamente com "Quimeras Incas", ainda há tempo...
ANGÚSTIAS DE UM PEIXE-VOADOR
"Era um cérebro instalado em um barco de carne e ossos ao sabor das ondas sociais, pronto a saborear as mais diversas paisagens como pano de fundo ao seu filosofar. Questionamentos de terceiros eram apenas o murmúrio do mar, assovios dos ventos."
Arthur e o encarar do real com a coragem de virar as costas para os robotizados cidadãos "bem-sucedidos". Via-se como um peixe-voador que havia nascido quando principiava a sair d'água para seu salto e que, momentos depois cairia novamente na inconsciência quando voltasse a tocar na superfície límpida, calma, indiferente de um mar infinito chamado Universo. Sabia que nesta reentrada por mais que se agitasse apenas provocaria alguns respingos que logo desapareceriam. Sabia que era nada e tudo ao mesmo tempo, pois era de Arthurs, pedras, árvores, água e tudo mais que era formado o Todo, peças intercambiáveis construindo ao acaso. E o acaso dotara Arthur de uma qualidade duvidosa, a de, neste salto milimétrico e efêmero, fazer uso de uma consciência transitória, ver-se, sentir-se, observar. Era um pobre ser humano, a mais inútil das criaturas numa realidade igualmente inútil.
MARIA DA SILVA
Maria é uma catadora de lixo. Sem descrições supérfluas, assim a imaginação do leitor comporá o ambiente lendo o drama com o cenário que conhece, que acontece perto de si, que visualiza no dia a dia e cujo cerne desconhece ou finge não conhecer. Diariamente Marias morrem de inanição e doenças não tratadas, numa breve e trágica passada pela vida levando consigo toda uma história ignorada pelos demais distintos cidadãos.
A CONSPIRAÇÃO DE SANTO ANTONIO DO DESAMPARO
Entre na mente do professor J.C. Raciocine em conjunto e acompanhe os passos lógicos e convincentes. Olhe para fora e veja um mundo perverso e ameaçador através da fragilidade do chip orgânico chamado cérebro, de uso contínuo, acumulando os arquivos fragmentados de sonhos desfeitos, ódios recalcados, medos, decepções e tristezas sem que seja feita no decorrer de sua vida útil uma manutenção efetiva, uma limpeza de disco, uma desfragmentação, um escaneamento com antivírus. J.C. é a vítima e o vilão também existe para todos nós que o adulamos, servimos, tentamos conquistar, enchemos-lhe de sorrisos e acenos mas é um monstro hipócrita, amoral, cruel, castrador, dissoluto, ditatorial: a Sociedade.
AS BRUMAS NÃO SÃO ETERNAS
Transcorreram céleres os 80 anos desde meu nascimento. Mas só agora medito mais frequentemente sobre isso, só agora quando tudo está quase parado, tudo parece penosamente em câmera lenta como num filme, um filme de terror… Considerando o tempo de vida de meus falecidos pais ainda teria uma década pela frente, mas definho. Sei que ainda consigo andar, mas não me deixam. Ainda posso falar, mas para quê? Para me ignorarem como a uma criança ou pior, mandarem-me calar? De meu, só meu, inalcançável pelos inimigos tenho a mente que luta para se manter lúcida a cada dia, cada minuto. Uma cidadela ainda segura. Fora dela tudo são brumas onde prudentemente devo permanecer com o mínimo de movimentação possível, sem interferir, acatar sem protestar para fugir ao castigo. Sou um objeto frágil, obsoleto, portanto descartável. Quem são os inimigos a quem a bruma favorece? São aqueles que me enxergam como um alvo a ser espoliado e outros mais jovens, cheios -por enquanto- de vigor que investidos de autoridade dada por tempo passado em uma sala de aula e não pela vida, ignoram meus pedidos de socorro e apenas sorriem com ar de comiseração e que não entendem que estão cursando, na Universidade da Vida, o estágio para a velhice e todos os que a morte não surpreender antes receberão seu diploma, serão o que hoje sou. Meu corpo é um invólucro jogado de um lado para o outro, massa que deve se apresentar inerte, que todos esperam que esteja inerte, que não atrapalhe a velocidade inútil da sociedade em sua desabalada corrida sem rumo.
Um relato na primeira pessoa e comentários na terceira pessoa de uma arrasadora viuvez e suas consequências, a busca por uma solução passando por pensamentos suicidas e chegando à contratação de um cuidador de idosos para amenizar a solidão; os maus tratos decorrentes, fragilizado e nas mãos de um casal de pequenos vigaristas. A degradação paulatina, a busca de explicações lógicas para aceitar a humilhação e a salvação representada por uma maravilhosa e decidida mulher...
O INFINITO NÃO TEM PRESSA
Tragicomédia em muitos atos representada pelos humanoides no teatro Planeta Terra (pretensa propriedade de um suposto Deus) com direção do ausente Estado)
Este livro, de convicta lavra ateísta, contém conceitos que embora frutos de coerente raciocínio podem, por força da hipocrisia social e ambiguidade das leis serem tomados por apologia ao anarquismo, violência e racismo. Não é um manual, tampouco autoajuda, devendo ser entendido como um contrapor racional às discussões sobre os citados assuntos, usando o direito da livre manifestação do pensamento. Leitura, portanto não recomendada a indivíduos sugestionáveis, abrangidos aí os adolescentes.
Este não é um livro politicamente correto. Os conceitos nele contidos não sofrem a influência ridícula e ficcional das religiões, não acatam as imposições ditas científicas incompreensíveis e aceitas sem contestação, nem as inconsequentes, teóricas e irreais prosopopeias acadêmicas, não se curvando às pressões de grupamentos raciais, políticos ou sociais que em nome do chamado “politicamente correto” querem impor sua incapacidade e incompetência como direito às benesses conseguidas pelo esforço dos demais. A primeira parte, A angústia de Deus, é uma teoria mais plausível, mais digerível, do surgimento do Universo, sem dogmas e deuses barbados fabricando criaturas pouco funcionais, com intestino grosso e delgado, pâncreas, amígdalas e outros complementos estranhos -por quê não uma que se alimentasse de ar, por exemplo- e, na segunda parte, Os filhos do Nada, uma vez deixado claro que somos fruto do acaso, sem prêmios ou castigos de hipotéticos céus ou infernos, tento fazer um balanço do caos que é a vida inteligente no planeta, nossos muitos erros e poucos acertos em busca de um rumo, tentando fugir da Grande Manada, a terceira e simbolicamente derradeira parte…
Passados quinze anos de esperanças, descendo e acelerando na ladeira da morte, resolvi abrir mão das minhas toneladas de riqueza e história lacradas na lama amazônica, não por altruísmo, mas por absoluta impossibilidade de conquistá-las sozinho e a consciência de que o peso dos problemas será igual ao peso do ouro. Ouro? Quem disse ouro? Este nome poderia ser somente uma alegoria, batizando algo bom e desejado e ao mesmo tempo maldito, porque me perseguiu e me fez abrir mão da tranquilidade de vários empregos seguros por saber que ele me acompanhava, me esperava. Como um bilhete de loteria premiado em mãos, é só ir lá receber... Mas alternava desejo e desprezo. Lugarzinho difícil, maldito, achado porque minha copiloto era neófita na região e eu, displicente comandante antigo, deixava o pesado helicóptero vagar em sua rota no Paraíso Verde, ora à direita, ora à esquerda, por ter em minha mente a posição do rio Juruá e a qualquer momento podia assumir o controle e aproar para ele, seguindo até nosso destino. Fui falar em ouro, muito ouro, então, para evitar complicações e correrias, deixo claro que isso aqui é um romance escrito por um velho enfadado para passar o tempo restante neste planetazinho ordinário. Se for perguntado, desminto tudo. Têm personagens verdadeiros? Alguns. Locais verdadeiros? Alguns. Relatos verdadeiros? Alguns. Tudo misturado para não ter muito trabalho mental ao escrever. Se querem verificar, perguntem aos personagens verdadeiros, eles se lembrarão de algumas passagens. Chequem os mapas, lá estarão algumas curvas de rio importantes... Juntem tudo e terão a verdade. Querem ir lá? Não recomendo, mas tudo é aventura e surpresas acontecem. Tranquilo ao escrever após tanto tempo, pois quem conhece a Amazônia sabe que um cadáver não fica apodrecendo no mesmo lugar, dissolve-se e vira adubo, mas só o pouquinho que porventura sobrar do banquete animal. Escritor amador, já falei demais na primeira página, em vez de fazer suspense e deixar as coisas acontecerem em seu devido tempo... Colocando as ideias em ordem, caminho lentamente pela sala de meu velho casarão nesta manhã de sábado, todas as janelas frontais – e são muitas – estão fechadas, apenas as laterais eu tenho aberto ultimamente. Já não existo, nada mais a dizer. Mas sim escrever, a última travessura, lançar a confusão e fugir para o túmulo... Contemplo meus móveis antigos, minhas fotos de África, a gloriosa verde e branca bandeira da Rhodesia dependurada na parede. Olho para o canto da biblioteca e abro um largo e raro sorriso. Sobre uma base de madeira, mogno creio eu, está minha peça de trator, com a qual todas minhas ex esposas implicavam, “que disparate”, uma peça feia, pesada, “você nunca teve nada com tratores”, “não tem nada a ver com a decoração”... Até mesmo os ladrões quando roubaram a casa no sítio em uma de minhas várias ausências, desprezaram-na. Levaram minhas peles de onça, antiguidades, mas a roda motriz 320 da Caterpillar, com seus incômodos 36 quilos, pintada com o clássico amarelão, lá ficou, sem valor, sem importância. Escrito com pincel e tinta preta, grosseiramente, lá está o S/N, o “serial number” se destacando contra o amarelo:8E9805. Assim, desprezada, ela viajou de Eirunepé, Amazonas, dentro de um rústico engradado, com alguns pedaços de papelão nas bordas, reforçado com aquelas tirinhas metálicas para não romper, numa balsa até Manaus. Sem seguro, declarada como peça recondicionada, sem valor comercial... Depois Belém, ainda de balsa, depois São Paulo, na carroceria de um caminhão de transportadora. A recebi passado uns dois meses, caixote todo se arrebentando pelos maus tratos. Trinta e seis quilos de ouro inca que não tive coragem ou necessidade de usar durante 15 anos... Ínfima parcela do que me esperava lá na selva, com o mapa guardado aqui na cabeça, apenas alguns lingotes que pude carregar, deixados no terreno pelos saqueadores... A ideia fora muito boa para se livrar da fiscalização rígida, controlando a saída do ouro de garimpos clandestinos, rígida porque buscava angariar subornos...A peça velha do trator de esteira, a primeira que achei no ferro velho, areia fina molhada e prensada para o molde e um maçarico bastaram. Depois, o acabamento com uma lima, um pouco de tinta amarela e preta e foi só despachar, do modo mais barato possível disponível na praça. Nunca a considerei dinheiro, porque não a enxergo na cor amarela, apresenta-se vermelha, de sangue. Não valeu a pena... O que chamo de ouro, quimera, não mais me fará diferença e os cadáveres que aparecerão na história, tenho certeza que não estarão no terreno onde foram deixados, quinze longos e úmidos anos atrás. Isto é um romance, caras autoridades...
Longe da exagerada ficção, as vidas de Arthur, Maria, J.C. e o octogenário viúvo estão, diria eu, aquém do cruel e indiferente real. É preciso encarar a vida sem o escudo confortável de um suposto Deus e o estelionato das promessas de paraísos pós morte. A duvidosa benesse de uma consciência fugaz, transitória, presente na inteligência rudimentar desenvolvida nos humanoides só tem produzido resultados desastrosos em relação aos outros animais que se desenvolveram neste mesmo planetinha vulgar; estimulamos e desenvolvemos a agressividade além corpo com armas de destruição, usamos a mente para manter um perpétuo cio superlotando a superfície terrestre além do que ela pode suportar em alimentos e usamos a filosofia equivocadamente partindo de bases frágeis e insanas que nos colocam como seres superiores. Não passamos de um corpo abobalhado e frágil arrastado aos trambolhões por um cérebro instável e desordenado, um computador primário infestado de vírus e sobrecarregado por arquivos inúteis e corrompidos.