Somos apenas um acúmulo de experiências aleatoriamente jogadas em
recipientes orgânicos chamados cérebros pela loteria genética,
complementados num curto tempo de consciência transitória chamada
vida com o que vemos, sentimos, realizamos e armazenamos no DNA.
Depois somos descartados e outro e mais outro irão nos sucedendo e
somando. Os magnatas, os gênios, os mendigos, reis e escravos de
outrora, desaparecidos, transformaram-se em elementos de construção
de igual valor para novas formações, deles só o conhecimento
impalpável mas gravado restou, em nós.
O cérebro que
permite essa consciência transitória vai de carona num corpo
extremamente vulnerável com membros que permitem a locomoção de um
lugar para outro e a interação física com o universo e seus
componentes orgânicos ou não e que permite a recolha de dados que
se somam aos incontáveis registros de bilhões e bilhões de homens
que pelo planeta passaram. Apenas mantemos o fluxo de vida, até
agora sem nenhuma utilidade prática. Se o conjunto orgânico
chamado homem utilidade tivesse, desnecessária se tornaria a
reprodução, cada um seria uma peça em constante crescimento
intelectual e aprimoramento físico, cada vez menos vulnerável. O
fato de nos reproduzirmos demostra que somos apenas transportadores
de experiências, para talvez um dia chegar a algo mais perfeito.
Notem que nossa chamada vida se resume ao crescimento até o ponto de
reprodução, que dura alguns anos e logo após inicia-se o declínio,
apenas o tempo necessário para assegurar-se da proteção e
crescimento das crias, os novos transportadores. Schopenhauer tem toda a razão: “o homem
é apenas um fenômeno, não a coisa-em-si.”
O
acaso segura uma mangueira que molha o Nada. Nós somos as
incontáveis gotículas que jorrando, formam o efêmero e inconstante
arco...