Sempre exasperado com o impalpável presente,desconfio cada vez mais que só existimos no passado,somos lembrança,não somos realidade. Obviamente não é nem preciso se estender sobre o fictício futuro pois nunca sabemos nem sobre o próximo segundo,futuro é conjectura,mais impalpável ainda. O ser ou não ser está respondido:não somos! Carnaval é bom? Copa do Mundo? Sexo? Pronto,é esperar por eles -conjecturas- e depois recordar-se deles -passado- não permanecemos nos eventos.
Hoje fiz uma experiência interessante:gosto de,volta e meia,escutar boa música enquanto bebo um -nem sempre bom- vinho,refestelado em minha sala por uma hora,hora e meia. Pensando em fazer o mesmo lembrei-me que depois desses momentos de prazer tudo volta ao normal,sem graça,monótono,rotineiro,prazer no tempo passado,que não se agarra,segura,toca,simples lembrança que pode ter acontecido ou não.
E imerso nessas elucubrações,vesti um blazer,coloquei música clássica,abri uma garrafa de vinho,sentei-me no sofá com as salas iluminadas,bebericando e relaxando o corpo,POR CERCA DE UM MINUTO. Desliguei de imediato a música,apaguei as luzes,retirei o blazer,guardei o vinho e fui me entreter com alguma coisa na cozinha,no terraço,rotina normal. Algumas horas depois concentrei-me em recordar o momento em que tomei vinho e ouvi música...Embora este evento tenha durado somente um minuto,a sensação,a lembrança,eram as mesmas se lá estivesse permanecido como nas vezes anteriores,por uma hora ou mais,mesmo valor,momento intocável,que não volta e não tem dimensão espacial ou seja mensurável em tempo humano. Nós somos o conjunto de milhões de atos que cabem em nosso cérebro com folga,ocupando o mesmo espaço que outros sem se acotovelar,independente que tenham durado segundos ou décadas! O tempo é uma ilusão? Ou nós é que somos a ilusão?
E esse texto já é passado...