sábado, 2 de agosto de 2014

O inimigo está no poder: 2 de agosto, meu batismo de fogo

E lá se vão 40 anos do início de minha luta armada contra o marxismo. Nunca imaginaria que iria sobreviver para contemplar, décadas depois, o meu país ser tomado e destruído pelo mesmo inimigo nefasto, agora anacrônico e repelido mundo afora. Ressurgido das cinzas da defunta URSS e usando de fraudes e mentiras a um povo incauto, se instalou no poder de forma pretensamente "legítima", derrotados que foram repetidamente pelas armas todas as vezes que com elas tentaram atacar a democracia brasileira. Eram e são covardes como homens e incompetentes como guerreiros, exatamente como seus camaradas, guerrilheiros marxistas da Frelimo que tentaram tomar a colina onde, num dia 2 de Agosto como hoje, me encontrava...

"Noroeste de Moçambique, aldeia de Cóbue, às margens do Lago Niassa, 1974. Jantava com o guarda  africano Abdul na casa do Administrador que havia viajado para Vila Cabral, capital da província, há uma semana, no barco da Marinha. A Companhia de Fuzileiros Especiais fora retirada após a Revolução de 25 de Abril e no quartel de 39 salas eu era o único ocupante... Após um mês sem qualquer novidade, cansado de carregar a pistola-metralhadora FBP inutilmente, deixara-a no quartel e, banho tomado, vestia um confortável traje civil.

São 19:40h. Quando vou cortar um pedaço do apetitoso peixe grelhado colocado à minha frente uma longa e estridente rajada de Kalashinikov AK-47 rasga o silêncio da noite, tomando-me totalmente de surpresa. Voam vidros partidos e o som vem de muito perto da casa! Em frações de segundos estou rastejando para o quarto, Abdul para a cozinha e o criado correndo, deixando cair a bandeja metálica com estardalhaço. Os tiros espoucam pelo lado do aldeamento. Todos os palavrões possíveis vêm à minha cabeça! Desarmado, com roupa clara, pego como um principiante que acreditava não ser! Agachado, protegido pelo muro de um metro e meio de altura que prudentemente cerca a casa, corro para o abrigo contra morteiros. Abdul chega e salva a situação, pois vem com sua G-3. Responde fogo, dando-me cobertura enquanto corro para o quarto do quintal onde apanho uma pistola Walter 9mm e as granadas que posso, retornando ao abrigo.

Da parede ao nosso lado saltam lascas de reboco dos projéteis das AK-47 e PPSH russas. As informações que temos é que os ataques têm sido feitos com um canhão sem recuo de 76 mm. Se o usarem, estaremos perdidos. Estamos em posição mais alta que o inimigo mas este avança para nós, camuflando-se no meio do alto capinzal. São dois grupos de oito ou nove homens cada e se auto protegem. Economizo munição tentando ver os clarões das armas para depois disparar naquela direção. Abdul está em dificuldades com a G-3: estarrecido, verifica um pouco tarde demais que os carregadores que trouxera eram de FN, um fuzil belga e não se encaixavam em sua arma! Começa a esvaziá-los para carregar o único que serve e com isso paramos praticamente o fogo. O inimigo está perto e atira a esmo.

Passa-me uma ideia pela cabeça, perdidos por um, perdidos por mil: levanto-me, subo ao topo do abrigo completamente desprotegido, destacando com minha roupa clara do céu negro e grito: Frelimo! Frelimo! Por um momento os terroristas param de atirar e escutam. Penso em passar-lhes a conversa que a guerra acabou, a revolução, etc, etc, mas a pausa dura apenas alguns segundos. Uma saraivada de balas passa por mim, retalhando um mamoeiro ao lado! Com um sonoro “FDP” gritado com toda a vontade, encerro minha carreira de parlamentar, dando graças porém a já famosa falta de pontaria dos adversários. Salto para o solo e faço o que me resta fazer: muito barulho, blefar com nosso poder de fogo. Atiro três granadas em rápida sucessão para a baixada onde já se escutam ruídos de homens e descarrego um “pente” da Walter; Abdul, no mesmo momento metralha com a G-3. O efeito é bom e as granadas parecem que atingiram alguém. Os guerrilheiros que não esperavam encontrar reação e estavam próximos, recuam; os que no aldeamento tentavam saquear a cantina não o conseguem devido a uma inesperada defesa de dois milícias e seguindo sua tática de sempre batem em retirada, pois ficaram tempo demasiado atacando e reforços podem chegar. Mal sabem que isso é quase impossível!

Com alguma comida roubada e seis mulheres raptadas, a “gloriosa” Frelimo desaparece. Recarregamos nossas armas e após uns terríveis dez minutos de silêncio total salto pelo muro, seguido de Abdul e desço à aldeia empunhando a Walter no meio da escuridão. É loucura, mas prefiro isso ao suspense de aguardar entrincheirado no alto da elevação onde estava. Mas o inimigo realmente fugira. Com exceção dos dois que defenderam a cantina e suas famílias, os restantes milícias haviam abandonado as armas e saltado para o lago, entre os caniços ou se metido no meio do mato!

E assim recebi meu batismo de fogo, no topo de uma colina africana e juntamente com Abdul, rechaçara um ataque de guerrilheiros que possuíam superioridade em efetivos e material, o que não fora suficiente para suplantar sua covardia..." (trecho do livro A Opção Pela Espada )