Notícia no G1 :Um controlador da Força Aérea norte-americana Ron Walker diz ter deixado seu iPhone 4 cair de um avião a 300 metros de altura. Após a queda, o militar afirma que conseguiu encontrar o aparelho sem um único arranhão.
Li a nota com um certo ar de desprezo,um ar de grande coisa!,pois de imediato lembrei-me do bombardeio de copos de vidro realizado pela FAP,a Força Aérea Portuguesa,no início dos conflitos em seus territórios africanos. A história foi me contada numa tarde tranquila em Salisbury,bela e próspera,que ainda não era – graças a Deus- Harare,capital da guerreira Rhodésia,que ainda não era –graças a Deus- o paupérrimo Zimbabwe. A história é interessante mas nada tem de fantástico se pensarmos que as primeiras granadas,há mais de mil anos na China,eram feitas de cebolas secas recheadas com pólvora e que já no século XX,o Japão bombardeou os chineses com bombas de porcelana cheias de pulgas contaminadas com a peste bubônica...
Pesquisei pela Net e nada encontrei a respeito,portanto sem confirmação,mas meu interlocutor tinha servido nas forças armadas portuguesas e depois,na guerra civil de Angola tinha sido um homem de confiança,com muitos combates ao meu lado,de modo que não seria necessário inventar histórias,vivera muitas...
O fato começara em uma base aérea na Metrópole,como se denominava Portugal,na época colonial. Anos 60,início do terrorismo em Angola,enfrentado com determinação mas poucos recursos por Salazar. Época de improvisações,experimentos. Bombardeios foram realizados de aviões de transporte,as poucas tropas no norte de Angola se misturavam com voluntários civis no terreno. Faltava tudo. Miscelânea de armas de guerra,de caça... Alguém idealizou o seguinte:uma caixa,tipo aqueles antigos engradados de cerveja,feitos de madeira,todo quadriculado,com 24 repartições,onde foram colocados copos comuns de vidro. Dentro dos copos,granadas de mão,bem ajustadas -cabe perfeitamente e não permite que a alavanca se mova- e com as cavilhas de segurança retiradas. Uma tampa fechava a parte superior do caixote,presa com pinos ligados a um longo e fino cabo de aço de comando,usado em aeronaves. O caixote foi preso na parte inferior da asa de um avião ligeiro e o comando de abertura seria apenas um puxão do piloto. A tampa se abriria,os copos seriam lançados mas as granadas só explodiriam quando ,ao impactar no solo,os copos se quebrassem,liberando a alavanca do detonador. Decolaram e foram testar na praia próxima,local reservado para treinamento de tiro,mas a abertura não funcionou. Depois de várias tentativas frustradas,teriam que retornar,mas o medo era que a caixa,depois de ter sido forçada,pudesse se abrir durante o percurso e causar uma tragédia lá em baixo...Nisso passaram um bom tempo de tentativas já desesperadas,indecisões,sacudidelas na aeronave,até que sem outra alternativa voltaram à base,voando o mais suavemente possível,pousando sem maiores problemas que o susto,tendo a caixa permanecido fechada,com os pinos emperrados na madeira!
A geringonça bélica foi aperfeiçoada e chegou a ser usada algumas vezes com relativo sucesso em bombardeios aéreos de intimidação a grande altura,mas com a chegada dos novos armamentos adquiridos,a guerra passou a ser profissional e as improvisações terminaram. E o que tem a ver com o meu desprezo ao iPhone 4 festejado porque caiu de 300 metros? Porque durante operações posteriores,guerrilheiros capturados tinham alguns copos de vidro -tão intactos como o iPhone- em seus pertences e relataram que os recolheram no solo da floresta após os bombardeios! Acredite se quiser...
Pedi a confirmação "na fonte"para nossos patrícios e recebi posteriormente a seguinte informação,direto do competente Fernando Gil,do
blog Moçambique Para Todos:
"Tive esta resposta do Cor. Piloto Aviador Brandão Ferreira(Reformado):
De facto no inicio da guerra em Angola foram lançadas de avionetas, granadas de mão descavilhadas dentro de garrafas de cerveja (cuca), a que se cortava o gargalo. A garrafa partia-se quando batia no solo e a granada rebentava.
A improvisar ninguem nos bate...."