Agora pela manhã aproveitando o sol de inverno,fui sentar num banco em meu jardim. Uma linha de formigas seguia célere no chão,forçando-me a desviar o pé,numa atitude condescendente de "ser superior",pensamento que logo corrigi com uma série de questionamentos. Olhei para o sapato. Couro,borracha,cola sintética,fibras,plástico. Meias,algodão industrializado,calças idem,cinto de couro,metal,e assim fui,desde os pés tentando resgatar toda a complicada cadeia de eventos que foram necessários para que eu estivesse simplesmente vestido. E as formigas nuas,cuidando da vida.
A roupa era casual,estava em minha casa - tijolos,cimento,telhas de barro,vidros,fios elétricos - mas se tivesse que sair à rua –veículos,asfalto,semáforos,postes,sinalizações- trocaria a camisa e colocaria também um blusão por cima. Relógio,celular,óculos. E as formigas nuas indo e vindo. À noite,mudança de vestimenta,comida industrializada,troca de papel moeda por serviços. E as formigas,todas iguais,se recolhendo ao formigueiro. Um suficiente furo na terra. Todas devidamente alimentadas,alojadas,com papel social definido em prol do bando. E nós em disputa,para acúmulo individual inútil,já que somos tão mortais como as formigas.
Século XXI e na TV as autoridades comunicam o encontro de índios isolados no Vale do Javari. Com fotos de satélite,sobrevoo de aeronaves. E os índios com suas malocas e plantações à volta,descansando nas redes. Todos iguais,alimentados e alojados como as formigas,sem estudo,sem salário,sem roupa,sem problemas,a não ser os "seres superiores" já pensando em “ajudá-los”,lá de cima com seus rádios,computadores... Quantas espigas de milho vale um satélite? Quantas raízes de mandioca vale um avião? Com os olhos fechados aproveitando o calor do sol,o mesmo sol e calor do meu jardim,o que importa um satélite? Há apenas algumas décadas atrás,não tínhamos o imprescindível computador,o absolutamente necessário telefone celular. E os índios estavam lá,nas redes,como agora. Afinal,quem precisa cada vez mais de tantos complementos,ferramentas e assessórios para existir é um ser inferior,incompleto e que se torna mais e mais dependente,regredindo. Muito aquém das formigas e dos índios,estáveis num patamar,seres já completos...
A roupa era casual,estava em minha casa - tijolos,cimento,telhas de barro,vidros,fios elétricos - mas se tivesse que sair à rua –veículos,asfalto,semáforos,postes,sinalizações- trocaria a camisa e colocaria também um blusão por cima. Relógio,celular,óculos. E as formigas nuas indo e vindo. À noite,mudança de vestimenta,comida industrializada,troca de papel moeda por serviços. E as formigas,todas iguais,se recolhendo ao formigueiro. Um suficiente furo na terra. Todas devidamente alimentadas,alojadas,com papel social definido em prol do bando. E nós em disputa,para acúmulo individual inútil,já que somos tão mortais como as formigas.
Século XXI e na TV as autoridades comunicam o encontro de índios isolados no Vale do Javari. Com fotos de satélite,sobrevoo de aeronaves. E os índios com suas malocas e plantações à volta,descansando nas redes. Todos iguais,alimentados e alojados como as formigas,sem estudo,sem salário,sem roupa,sem problemas,a não ser os "seres superiores" já pensando em “ajudá-los”,lá de cima com seus rádios,computadores... Quantas espigas de milho vale um satélite? Quantas raízes de mandioca vale um avião? Com os olhos fechados aproveitando o calor do sol,o mesmo sol e calor do meu jardim,o que importa um satélite? Há apenas algumas décadas atrás,não tínhamos o imprescindível computador,o absolutamente necessário telefone celular. E os índios estavam lá,nas redes,como agora. Afinal,quem precisa cada vez mais de tantos complementos,ferramentas e assessórios para existir é um ser inferior,incompleto e que se torna mais e mais dependente,regredindo. Muito aquém das formigas e dos índios,estáveis num patamar,seres já completos...