quarta-feira, 21 de março de 2012

Causos:A cara vaidade feminina e a inesperada multa por sua falta...


Estava a rir sozinho de um causo em que o bem e o correto levaram uma rasteira. Sempre digo que as mulheres,se descritas por um alienígena,assemelhariam a um indígena em pé de guerra:pinturas berrantes,vermelho nos lábios e faces,pós prateados,riscos nos olhos,pele repuxada e presa na nuca como a bolsa escrotal de certos índios que a prendem na cintura(não com sutura cirúrgica das plásticas,mas com um cipó)balangandãs vários em torno do pescoço,perfurando as orelhas,artefatos nos cabelos multicolores,até mesmo o antinatural azul,etc,etc,tudo para driblar -sem sucesso- o passar do tempo. Mas vá,lá,disfarça razoavelmente e os homens e a sociedade aceitam e mutuamente se deixam enganar.

Já as mulheres com mais personalidade desprezam estes artifícios e envelhecem com dignidade,cabelos prateados e rugas descrevendo em pormenores cada golpe do destino,sem eufemismos mas com as alegrias passadas ainda presentes indelevelmente nos olhos. O preço pago é receberem um crachá invisível de velhas senhoras das amigas de mesma idade e serem deixadas de lado,pois a companhia pode denunciar o disfarce da contemporânea...

Quem seria mais feliz,quem vive mais leve? Aposto nas originais,sem aditivos.

Mas,como nem sempre o bem ou o bom vencem,a este preço às vezes juntam-se algumas cobranças extras no carnê da vida,quase sempre involuntariamente por parte do cobrador. Uma amiga minha e sua prima,de uma família de belas mulheres admiradas e disputadas em sua época,depois de décadas de ausência voltaram para visitar a antiga propriedade rural de seus avós. O tempo cobrira de neve os cabelos da prima e escrevera em traços profundos a história decorrida em sua face. Nenhuma maquiagem,nenhuma plástica ou disfarce no viver alegre e voltado para a religião,enquanto minha amiga,da mesma idade,produzia-se com a normal vaidade feminina,maquiagem,cabelos tingidamente dourados,batom,brincos e colares,unhas impecáveis...

O velho peão,vivendo longe do politicamente correto de nossa falsa sociedade,logo reconheceu a neta do patrão na bela senhora loira,fez-lhe festas,emocionado. E minha amiga,apontando para a prima:
-Seu Zé,não está reconhecendo?
-Não...
-É a Eliana!
Seu Zé ficou sério,fixando o olhar na velhíssima senhora à sua frente,foi com certo e visível esforço nos olhos semicerrados reconhecendo os traços que surgiam aqui e ali quase apagados naquele rosto,lembranças da linda moçoila de narizinho arrebitado que meio século atrás brincava no terreiro de café,foi ficando boquiaberto e exclamou sincero,direto,"na lata" em claro e bom som,separando demoradamente cada sílaba:
-Dona Eliana?!! Que Juu-Diii-Aaa-ÇÃO!!!