terça-feira, 1 de janeiro de 2013

2013... O ano novo e "O Deserto dos Tártaros" de Dino Buzzati


Nada muda,apenas o calendário,números... nem mesmo a idade física,pois a natureza não se prende a regulamentos criados pelo homem. Reúna um grupo de pessoas da mesma idade e verá as disparidades gritantes relacionadas à genética, conservação,personalidade. Nasceram na mesma época mas não morrerão juntos,mesmo que não sejam tolhidos por acidentes,mesmo que faleçam naturalmente.
 
Calendários são apenas a burocracia humana,contabilidade que generaliza.
 
Mas os animais mais fracos e imperfeitos da natureza -os humanos- necessitam de parâmetros,datas,pontos de apoio,de sininhos de vacas madrinhas a seguir. Ontem,último dia de um conjunto pré estabelecido de meses,foi farto de promessas, determinações,sonhos acordados como se levantássemos hoje -01 de janeiro de 2013- mudados,novos homens,nova personalidade,saúde zero quilômetro,dívidas apagadas...
 
Brindes,fogos de artifícios,alívio por o mundo não ter acabado em 2012,só porque o astrônomo maia ficou com preguiça de esticar o calendário além daquele ano... Saltar ondas,jogar flores no mar,roupa branca,lentilhas,mas que raio de ser é este que se diz racional?! Como sempre escrevo,não passamos de um conjunto mineral arrogante,premiado pelo acaso com uma consciência transitória que aliás não serve para nada além de complicar vidas que poderiam ser mais leves,divertidas... Debaixo da terra não haverá diferenças entre a freira e a prostituta a não ser talvez a quantidade de gordura... Olhe para trás e veja se,debaixo de tantas regras e parâmetros,sua vidinha exemplar não está transcorrendo como a do oficial Giovanni Drogo,personagem criado por Dino Buzzati em sua obra “O deserto dos Tártaros”. Não leu? Sugiro que o faça,mas depois da alegria pré-fabricada da passagem de ano,espere alguns dias,não quero ser o estraga prazerde sempre. É uma leitura que vai,ao avançar das páginas,se tornando mais e mais angustiante,espessa,completada por vazios,atulhada de nadas como a maioria das vidas passadas -e perdidas- e as presentes,ainda com chance de serem mudadas,motivo desse texto.
 
Ou,ao se deparar com o último inimigo -a morte- verão que não houve nem haverá o sempre apenas sonhado “combater no alto das muralhas,entre estrondos e gritos exaltados,sob um céu azul de primavera,nada de amigos ao lado cuja visão reanima o coração,nada do acre cheiro de pólvora e tiros de fuzil nem promessas de glória. Tudo acontecerá no quarto de uma estalagem desconhecida,à luz de um candeeiro,na mais despojada solidão. Não haverá combate para voltar coroado de flores,numa manhã de sol,entre os sorrisos de jovens mulheres. Não haverá ninguém para olhar,ninguém para elogiá-lo”

Medite. A única determinação a ser seguida não tem regras ou trilhos:é viver...