"Cumprimos o nosso dever! Angola: 1975-1992 ", de Sergey Kolomnin, editora" Studio "Ethnica. Cerca de 300 páginas com centenas de fotos. Uma obra para historiadores e colecionadores |
Recebi por gentileza da União Russa dos Veteranos de Angola este bem elaborado álbum que faz um detalhado historial do que foi a decisiva intervenção soviética naquela ex-colônia portuguesa durante a guerra civil. Os tempos mudam... Os soviéticos tradicionalmente respeitam e honram seus combatentes; nos EUA, veteranos de guerra são tratados como criminosos. Hoje, a fértil e imensa Rússia passou a fazer parte dos sonhos dos fazendeiros boers, sul africanos brancos que estão sendo dizimados por ataques racistas em sua terra; estima-se que 15.000 deles emigrem para as terras dos antigos inimigos na longa guerra de Angola. Enquanto isso nos EUA, terra da liberdade, Trump constrói cercas e separa como gado crianças latinas de seus pais.
Continuo - e assim morrerei- anti comunista, anti socialista ou qualquer coisa que saia do centro rumo ao lado esquerdo, por questão de coerência, já que essas doutrinas, tendências, ideais, embora fantásticas na teoria, partem de uma premissa falsa, a de que somos todos iguais. Não dá para dividir irmãmente as colheitas, sejam de batatas ou dinheiro vivo. A competência individual, honesta ou não, sempre engordará diferentemente os indivíduos.
Os comunistas venceram a guerra de Angola? Sim, ficaram com a glória. E a Wall Street, como sempre, com os lucros. Nada mudou. O dinheiro multiplicado produziu alguns milionários locais e o restante continua a escoar para fora, ideologias à parte. Nós que combatemos, não nos enganamos, sabemos disso. Não importa. Somos guerreiros e naturalmente sempre estaremos nas frentes de combate com a mesma tranquilidade que um padeiro faz seu pão todas as manhãs. Guerras não são entre povos e sim entre nações, suas doutrinas, e interesses de ocasião. Portanto nada impede que admiremos um povo rijo e cultuador de tradições como o russo. Que deram um apoio decisivo, físico, presencial, na Batalha de Kifangondo, que determinou o destino político de Angola. Wall Street apenas observou e mudou algumas letras em seus contratos. Já se esperava. Mas o surpreendente é comparar com a historia político-militar escrita pelos angolanos, com mais heróis que combatentes, com enredos hollywoodianos, onde uma amnésia coletiva faz desaparecer a contundente ajuda soviética nos últimos instantes, quando a capital, Luanda, estava prestes a ser ocupada por nós da FNLA e aliados zairenses, terminando um passeio que começara alguns meses antes, dominando todo o norte do país, praticamente sem oposição. Não foi uma simples ajuda soviética; foi uma ação determinante na vitória, quando seus aliados do MPLA já demonstravam sinais de pânico e ameaçavam abandonar as posições, o que certamente aconteceria quando os obuses G-2 sul africanos começassem a troar. Enquanto os sistemas de lançadores múltiplos de foguetes BM-21 "Grad", soviéticos, chegavam na véspera da batalha em um voo épico, emergencial, vindo da URSS, os EUA se limitavam a nos fornecer caixas de boinas e facas de combate... Fomos varridos com nossas belas boinas vermelhas.
A interessante obra histórica está em cirílico, e seria desejável para os povos de língua portuguesa que a mesma fosse traduzida e colocada comercialmente na Amazon, por exemplo, para se tornar mais acessível. A versão russa precisa ser conhecida no Ocidente, e também valer como um puxão de orelhas nos angolanos, antes portugueses, meninos ingratos nascidos e batizados na noite de 11 de Novembro de 1975. A URSS foi a madrinha, hoje esquecida. A leitura contribuirá para que se comparem as versões e se combata a velha máxima de que "a primeira vítima das guerras é a verdade". As guerras se fazem com dois lados em oposição; a verdadeira história delas, somente com os dois lados em conjunto.
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