Em guerra,seja ela no campo de batalha convencional seja nas ruas violentas de um Brasil onde se produzem mais vítimas anualmente que nas 10 guerras atuais mais importantes no planeta,na frente de combate está o guerreiro profissional que optou por um vida de sacrifício e namoro constante com a morte. Há pouco conversava com um colega veterano de guerra sobre nossas peripécias,vividas com emoção,na busca de Honra e Glória com o destemor de uma juventude certa da imortalidade. Tínhamos nossas recompensas claras,conquistávamos o respeito perante nossos pares e junto às populações civis. Éramos saudados,agraciados,condecorados...
Localizado o inimigo ou por ele surpreendido,nossa tarefa era simples:eliminá-lo ou ser eliminado,conquistar a posição ou abandoná-la. E para isso usávamos todos os meios disponíveis e com exceção de casos especiais,sem se preocupar em preservar instalações ou pessoas. Metia-se bala e pronto. Explodia-se e pronto. Batia-se em retirada,abandonava-se equipamento em troca da vida e se buscava o posterior reagrupamento para a desforra. Mas vencendo,conquistando o terreno,nada nos impedia de cantar a vitória,extravasar a euforia,erguer nossa G-3,FN,Kalasch acima da cabeça e gritar,bradar a destruição do inimigo. E as mensagens de Honra e Glória se espalhavam,as lendas cresciam,o espírito de Corpo ficava mais forte,o orgulho,o sentimento de conquista,de dever cumprido nos envolvia.
Tudo isso me levou a meditar sobre os nossos equivalentes em tempos de suposta paz,os policiais civis ou militares e sua difícil missão,ingrata,incompreendida,estéril em reconhecimento,fraca em equipamento,em constante embate contra um inimigo desregrado,sanguinário,covarde... O policial brasileiro,este guerreiro que repete nossas batalhas diariamente,em combate próximo,imediato,muitas vezes corpo a corpo,quase sempre em terreno traiçoeiro,com armamento inferior ao inimigo e que atacando ou atacado tem que pensar antes de puxar o gatilho,escolher cuidadosamente o alvo,contar os disparos,evitar atingir instalações e transeuntes e depois,se sobreviver,vai para casa cuidar da família,como se estivesse passado o dia em uma fábrica ou detrás de um balcão de loja e recomeçar no dia seguinte. Sem reconhecimento,quase sempre criticado,apupado,agredido pela própria população a quem serve,sujeito à poucas condecorações ou aclamações mas a muitos processos,expulsão,prisão,perda do emprego,mídia perversa,sensacionalista a persegui-lo,famigerados defensores dos Direitos Humanos sempre nos calcanhares e pobre do guerreiro urbano que,com a naturalidade humana,soltar um brado de vitória perante o inimigo morto! Estará sujeito à execração pública,a um linchamento moral.
A esses colegas com farda ou paisanos devemos o respeito porque como rivais em namoro com a Morte,somos sabedores que eles têm mais chance de se casarem com ela. Sem a mortalha da Glória reconhecida,sem o indicativo de coragem ímpar assinaladas pelas medalhas no peito,sem uma frase em sua honra que não seja uma nota de confronto na página de notícias policiais...