quinta-feira, 18 de setembro de 2014

"O diário da morte -a tragédia do Cessna 140"- Assassinados pela burocracia brasileira

 
O piloto Milton Verdi


No dia 29 de agosto de 1960, Milton Terra Verdi, pilotando o Cessna 140 PP-DOO e tendo como passageiro seu cunhado Antonio Augusto Gonçalves, fez um pouso forçado numa clareira na selva boliviana quando voavam entre Corumbá e Santa Cruz de la Sierra, para reabastecerem sua aeronave com um galão reserva de combustível que levavam a bordo. Fora da rota e sem maiores referências do terreno e sem conseguir decolar com ambos a bordo, perderam a vida de forma dramática enquanto seus familiares se debatiam inutilmente com a burocracia brasileira e a ineficiência e descaso das nossas autoridades aeronáuticas. O passageiro morreu na primeira semana após, transtornado pela sede, beber gasolina, mas o piloto, jovem de apenas 25 anos, resistiu por setenta dias esperando em vão as buscas que não aconteceram. Mesmo nas condições extremas em que se encontrava de fome, frio e principalmente sede, Milton Verdi teve forças para escrever um diário no verso de mapas e revistas, que deve ser conhecido por todos para que sua morte não tenha sido em vão. Seu tio, o advogado Walter Dias, que participou de toda a frustrada epopeia de lutar contra a desinformação, erros grosseiros e descaso do estado brasileiro, transcreveu as anotações em um livro onde relata passo a passo como a burocracia conseguiu ser mais forte que um ser humano que resistiu a 70 dias na selva... “O diário da morte: a tragédia do Cessna 140”, com duas edições rapidamente esgotadas tornou-se raro e bastante procurado por não ter sido mais republicado. A aeronave foi recuperada da clareira no ano de 2000 e se encontra no Museu da TAM em São Carlos, interior de São Paulo. (Clique)

Para os leitores em geral, uma lição de força de vontade, resistência e grandeza ao, mesmo em agonia, deixar o legado de uma experiência; aos pilotos e aventureiros, um alerta para o eficaz planejamento, a busca de conhecimento de sobrevivência em ambientes hostis, o porte de equipamentos mínimos como o imprescindível facão, água, mapas detalhados.

Para que todos possam acessar o cerne dessa tragédia, solicitando a compreensão dos detentores dos direitos autorais, copio abaixo somente o texto do diário, do livro em questão: DIAS, Walter. Diário da morte: a tragédia do Cessna 140. São Paulo: Edições Autores Reunidos, 1961. Clique nas imagens para ampliá-las.










 
O pior lugar possível, no centro do nada...
A clareira. Aparentemente hoje o local possui água em abundância;
observem a mancha no centro da foto.