“Faleceu
na tarde desta terça-feira (26) o desembargador Eduardo Contreras,
corregedor-geral do Tribunal de Justiça do Amapá (TJAP). No começo
deste mês ele teve um acidente vascular cerebral e passou por
delicada cirurgia no Hospital São Camilo, onde permanecia internado.
(...)Juiz
de carreira, que por quase 30 anos vinha cumprindo sua atuação como
magistrado no Amapá, Contreras era conhecido pelo equilíbrio,
erudição e gentileza.” (Diário
do Amapá)
Não
pude conter um sorriso quando li os elogios fúnebres acerca de meu
amigo Eduardo Freire Contreras. A palavra mais citada era
“gentileza”... Impossível que assim não fosse; Contreras -como
era chamado desde criança- era um raro homem gentil, uma qualidade
que não perdia até nos momentos mais difíceis. Educado e
tranquilo, foi o único que conseguiu manter uma fraternal amizade comigo, ao
longo de 60 anos, eu que tinha -e ainda tenho- todas as qualidades
contrárias às suas! Tive a feliz iniciativa de convidá-lo para
viver no Amapá e o orgulho de apresentá-lo àquela que seria sua
esposa por toda uma vida...
Para os que conheceram o Dr. Eduardo Contreras -Desembargador e Corregedor Geral de Justiça- com a solene toga, parece fácil que de sua alta posição fosse gentil. Difícil imaginá-lo com seu ar tranquilo e o meio sorriso no rosto, numa planície africana, vestindo camuflado e empunhando um fuzil G-3, tentando proteger famílias isoladas em meio a massacres e bandos desvairados de saqueadores, no caos que se seguiu à marxista revolução de 25 de Abril e o criminoso abandono das províncias portuguesas em África. Assim eu o vi, assim convivemos em Moçambique e Rhodesia nos conturbados anos 70. Tivemos juntos o privilégio histórico de vivenciar ainda o derradeiro período colonial e as guerras de descolonização. O jovem Contreras foi membro ativo da OPVDC - organização provincial de voluntários e defesa civil – em Nampula, a capital militar de Moçambique e assistiu o inconsequente abandono das populações à sanha dos terroristas e criminosos, lutando numa terra sem lei. Ele, para quem leu meu livro “A opção pela espada”, é o “E.C.”, onde, com discrição, cito algumas de suas ações.
Eduardo Contreras, em 1974, aos 25 anos, junto à fortaleza da Ilha de Moçambique |
Veteranos de guerra não se tornam amargos ou neuróticos, como se costuma julgar, quando lutam por ideal – o nosso era um racional anti comunismo – em defesa de uma Civilização.