Tenho
uma dúzia de livros publicados por aí na net, impressos ou
eletrônicos, o que não quer dizer muita coisa, já que nas
plataformas de edição podemos publicar até um livro com todas as
páginas em branco ou 300 receitas naturais de jiló com chuchu de
alguma tia nossa. O único dos meus que vende mesmo é o “A opção
pela espada”. Existem três deles que gostaria que meus amigos
lessem mas que são pouco vendidos pois os assuntos não são dos
mais atraentes e entendo perfeitamente que nesses tempos conturbados
temos muito mais coisas urgentes e práticas para se ocupar que ficar
cavoucando entrelinhas de autores desconhecidos para tirar algum
leite da pedra. Mas talvez nesta época conturbada é que devemos às
vezes, dar atenção ao nosso interior para depois selecionar os
problemas externos, enfrentando alguns e ignorando outros, diria
ignorando muitos outros por supérfluos, ridículos, já que somos
produtos perecíveis...
Os
três livros foram escritos em tempos distintos, sem encadeamento
entre si, mas o tema é o ser humano. Maria da Silva é uma
catadora de lixo em sua luta diária para sobreviver, esgueirando-se
pela sociedade que não a vê, a atropela quer por palavras,
comportamento, quer pela interação sempre traumática com os
serviços sociais, igreja, polícia. Quis tirá-la dessa
invisibilidade. A
conspiração de Santo Antonio do Desamparo relata
o choque da aposentadoria de um cidadão de vida normal, um professor
solitário e a chegada aparentemente súbita da paranoia, visto de
dentro para fora, o leitor
rodando com as engrenagens
de seu cérebro nas situações reais e em suas decisões
perfeitamente lógicas mas vistas como loucura pelos demais
intervenientes. Angústias de um peixe-voador (quem
compraria um livro com esse título!) talvez seja o
rescaldo de quem, após contemplar a miséria da sociedade, contestar
seja a chamada loucura, seja a suposta e aceita sanidade mental e
olhar à volta com os olhos de um espectador externo à vida, ao
planeta, começa a buscar praticidade e realidade no ínfimo tempo de
permanência num inútil Universo, com o peso de uma consciência
transitória chamada vida.
Livros para serem usados num momento tranquilo, à
noite ou num fim de semana, são
pequenos e podem ser lidos em
uns 20 minutos cada. Se
conquistar algumas mentes e para estas
o amanhecer parecer mais claro, terei alcançado o sucesso. Olhando
à volta e não somente à frente, como se portando antolhos tivéssemos e expurgados
de crenças de imortalidade, poderemos
paradoxalmente conquistá-la, libertos que estaremos para grandes
feitos sem medo da morte, que nada mais é que um simples rearranjar
de partículas. A
maioria não gostará, por delicadeza dirão: bem interessante, “seu
Pedro”, logo esquecerão e voltarão aos afazeres, mas como disse
Albino Forjaz Sampaio em suas Palavras
Cínicas,
“se as leres no
meio de um festim as porás de parte com enfado, mas buscarás a sua
consolação quando o mundo te fizer chorar”...