segunda-feira, 24 de junho de 2013

A Revolução, jovens oficiais, não pede ordens!

Consciência é uma palavra que os covardes empregam, inventada para infundir temor nos homens fortes. Seja nossa consciência o braço forte; nossa lei, as espadas. Eia, avante! Juntos conquistaremos nome eterno, ou juntos baixaremos para o inferno. (Shakespeare,A tragédia de Ricardo III)

Não se morre mais que uma vez, senhores oficiais. Entre a mansidão que vem com a velhice dos generais e a vontade de ação dos jovens guerreiros está uma Terra de Ninguém perigosa, um campo minado com a carreira segura, armadilhado pela disciplina cega, bombardeado pelo medo. Soldados não devem envelhecer. Foram criados para morrerem em plena força, de pé, no campo de batalha. Ou se é um militar ou se é um funcionário público. Escolham seu lado. Aos últimos uma carreira tranquila os espera, aos primeiros, nada menos que a Glória, a Eternidade!

Oficiais Generais detém o poder de mando, mas os demais detém os gatilhos, operam as armas. Se os comandantes estão servilmente curvados à frente, mantenham-se eretos e terão uma melhor visão do campo de tiro. Há momentos em que um único disparo de canhão derruba um governo quando coincide com o desejo da massa. Um escapar do treinamento de tiro real, uma queda de asa rumo à História... Rebeldes não esperam ordens. No espoucar dos primeiros tiros mata-se um possível retorno. O único caminho será o avançar. Os demais terão que escolher um lado e os Generais que os sigam ou verão, encolhidos em uma sala, o mundo se abrir lá fora para novos tempos, o país que agonizava encher novamente os pulmões com a liberdade no fragor da batalha, bandeiras ao vento, pólvora e sangue no ar marcando novos rumos.

Cumprido o dever constitucional, a espada volta à bainha e com um simples toque de joelho Homens conduzirão a montaria de volta ao quartel sem nada pedir. Namoraram a Morte, casarão com a Honra...

Ou, depois de uma vida tranquila e morna, ao se deparar com o último inimigo -a morte natural- verão que não houve nem haverá o sempre apenas sonhado “combater no alto das muralhas, entre estrondos e gritos exaltados, sob um céu azul de primavera, nada de amigos ao lado cuja visão reanima o coração, nada do acre cheiro de pólvora e tiros de fuzil nem promessas de glória. Tudo acontecerá no quarto de uma estalagem desconhecida, à luz de um candeeiro, na mais despojada solidão. Não haverá combate para voltar coroado de flores numa manhã de sol, entre os sorrisos de jovens mulheres. Não haverá ninguém para olhar, ninguém para elogiá-lo”(Dino Buzzati,O deserto dos Tártaros)