quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

O carnaval e a quarta-feira:o real não é de cinzas


A leve brisa do desengano é suficiente para afastar as cinzas e mostrar a brasa do real que queima contínua,alimentada pelo oxigênio do impalpável tempo que corre,escorre,foge. Os olhos antes brilhantes estão opacos,as bocas que pronunciavam palavras como êxtase,alegria,emoção,estão mudas ou balbuciando alguma coisa rotineira,dolorosamente sem fantasias. O resto de maquiagem que teima em ficar não mais transforma o ser em rei ou rainha,é apenas um produto químico que mancha o rosto.

Êxtase:estado nervoso caracterizado pela perda de consciência da própria existência.

Ou seja, o indivíduo se esquece para sentir-se maravilhado com algo. Com a noção de si próprio, do real que o envolve e do tempo que não se pode agarrar, não há deleite total. Notem que tudo -absolutamente tudo- classificado como diversão, lazer, gozo, arrebatamento, tem como característica primeira, forte, o apagar do entorno, o esquecer: música, filmes, games, danças, sexo, bebida, drogas... Por instantes o homem deixa de existir como ser humano, transforma-se, transporta-se para um espaço onde não há dor, tristeza, trabalho, problemas, doenças, morte... Fica mais próximo dos animais selvagens, livres de rédeas, amarras, convenções, leis, vivendo cada dia, cada hora, cada minuto por vez,  sem extrapolações inúteis, cálculos futuros e principalmente sem noção contada, contabilizada, somada matematicamente da morte, do fim.

Tendo em vista que o final de todos,animais racionais ou não, é o dissolver-se,virar adubo, quem vive mais plenamente? O arrogante humano com seu supérfluo cérebro que cria produtos e eventos incessantemente para fugir de si próprio ou os animais que correm livres, vento no focinho, saciando a fome e sede por instinto, trabalhando exatamente o necessário para isso e passando a maior parte do tempo enrodilhados com os seus, em paz e sem porquês?