No início da década de 90 recebi a missão de deslocar um Bell 212,helicóptero bi turbina para 15 ocupantes ou 1500kg de carga da Base da Petrobras de Porto Urucu,Amazonas,com destino à cidade de Cruzeiro do Sul,no Acre,às margens do Rio Juruá,onde ficaria baseado para deslocamentos de apoio a uma sonda de petróleo na região do Rio Ipixuna. Voo sem passageiros ou carga,apenas eu no comando e a co-piloto Lia,com previsão de abastecimento em Eirunepé. Como de costume a co-piloto assumiu os controles da aeronave e eu me limitava a meditar,com o queixo apoiado nas mãos,observando a floresta que passava lentamente pelos visores colocados abaixo dos pedais. Mantendo o Rio Juruá à nossa direita e com dois grandes tanques suplementares de combustível,não me preocupei com uma navegação acurada e nos desviamos à esquerda da rota,mais que o aceitável. Feita a correção,aproando o grande rio e voando sobre uma área fora dos trajetos normais,tive a atenção despertada por pequenos montes agrupados,atípicos no imenso tapete verde da Amazônia. De minha anterior experiência voando nos garimpos de Rondônia,deduzi que deveriam ser aflorações de cassiterita,que se apresentam em elevações que se destacam na vegetação. Não usávamos GPS e navegando por contato é sempre prudente ir anotando pontos de referência na carta WAC (World Aeronautical Chart) e foi o que fiz,automaticamente desenhando montículos no mapa na posição aproximada e não pensei mais no assunto.
Após pousar no aeroporto de Cruzeiro do Sul,enquanto arrumava meus pertences para abandonar a aeronave alguém se aproximara e conversava com minha co-piloto,que me chamou. Já fora do helicóptero dirigi-me ao personagem nitidamente europeu,baixo,ligeiramente calvo,suado,com o rosto avermelhado e vestido como explorador de filmes de Hollywood,os típicos trajes cáqui cheios de bolsos... Se apresentou em francês como um pesquisador sobre Incas,perguntou-me sobre minha rota e disparou:
-por acaso não avistou um agrupamento de pirâmides na margem direita do Juruá?
Num ápice meu cérebro,que ignorara as elevações atípicas avistadas durante o voo,reviu o que eu considerara apenas um ponto relevante para a navegação e lembrei-me de um fator importante:aflorações de cassiterita costumam ser isoladas,não em grupo!
-Lia,por favor,a carta WAC! Mostrei ao francês o mapa com os montículos desenhados e ele conseguiu ficar mais vermelho ainda:
-Exato,exato,é no ponto onde o Juruá se alarga que eles entraram floresta adentro!
-Eles quem,monsieur?
-Os Incas,é claro!
E foi minha vez de ficar embasbacado... Sua teoria era que descendo o rio e procurando um refúgio seguro e distante dos espanhóis ou guerras internas haviam evitado prosseguir na parte mais larga do Juruá -que poderia ser habitado- e se embrenharam na selva para construir uma cidade...
E foi minha vez de ficar embasbacado... Sua teoria era que descendo o rio e procurando um refúgio seguro e distante dos espanhóis ou guerras internas haviam evitado prosseguir na parte mais larga do Juruá -que poderia ser habitado- e se embrenharam na selva para construir uma cidade...
Este meu relato pode ser confirmado pela co-piloto,pelos operadores do aeroporto que permitiram que o francês entrasse no pátio das aeronaves e a missão aérea através dos livros de bordo e registros da firma de táxi aéreo. Uma história que achei tão interessante que resolvi,mesclando realidade com ficção,escrever o romance "Quimeras Incas"(Amazon.com (impresso, $5.23), e-book na Livraria Cultura, R$6,65 e que foi traduzido para o inglês por Rafa Lombardino,CEO da http://wordawareness.com/ da Califórnia,USA.
Tudo o que foi escrito e que se passa perante terceiros é real, provado, testemunhado, embora construído com mosaicos de fatos não obrigatoriamente encadeados e a ficção fica apenas na parte do cerne da história,ocorrida dentro da selva,onde não há testemunhas ou,como nas páginas do romance,sobreviventes. Separar o real da ficção fica a cargo do leitor...