quinta-feira, 29 de março de 2012

Portugal,castelo em ruínas...


Não devia ter recordado Fernando Pessoa,fez-me mal... Em Lisbon revisited,de 1926,não há para nós,”os retornados”como fugir do sentimento de estrangeiro aqui como em toda parte...

Outra vez te revejo,
com o coração mais longínquo,a alma menos minha
Outra vez te revejo - Lisboa e Tejo e tudo
Transeunte inútil de ti e de mim.
Estrangeiro aqui como em toda parte,
Casual na vida como na alma,
Fantasma a errar em salas de recordações,
Ao ruído dos ratos e das tábuas que rangem
No castelo maldito de ter que viver..."

Por melhor que estejamos hoje,legítimos herdeiros que somos da fibra dos capitães de outrora,heróis das descobertas e conquistas,sem medo de recomeçar seja onde for,muito além da Taprobana se necessário,não nos livramos da sensação de sermos fantasmas a errar em salas de recordações...

Portugal de hoje,Mãe Pátria desnaturada,age como se não tivesse no passado,qual marinheiro destemido mas inconsequente,engravidado territórios nos portos onde atracava,deixado vir à luz países que depois renegou,abandonou,esqueceu.Finge que não conhece o Brasil,filho bastardo mas de quem aceitou por séculos a dádiva de suas ricas terras,o mesmo fez com os filhos de África,Ásia,Oceania... Pior,mesmo com o inegável DNA insistiu,em meados da década de 70,em não reconhecer seus legítimos rebentos quando bateu a porta do Ultramar Português e sem olhar para trás abandonou cinco séculos de casamento oficializado,tratando como estrangeiros na Metrópole europeia aqueles que retornavam ao ninho de origem,retornavam,eram os retornados,agora estrangeiros em Portugal como em toda parte...

Tornamo-nos fantasmas a errar em salas de recordações,ao ruído dos ratos e das tábuas que rangem no castelo tornado maldito pelos Capitães de Abril...

Nunca esqueceremos mas nem deixaremos que nos esqueçam. A conta,que um dia será cobrada pela História,já está sendo cobrada pela Economia,sem as dádivas dos filhos renegados...