sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Contos natalinos no Blog:o veado do Papai Noel

Chega a época do Natal e como qualquer outra data,nós relembramos de fatos relacionados. No meu caso foi o veado do Papai Noel e não estou me referindo a nenhuma rena... Calma patrulhas,eu explico.

 
Dezembro não é visto com muita satisfação por pilotos de helicópteros que voam em táxis aéreos,geralmente alugados para os voos de Papai Noel. Embora pareça divertido,os locais de pouso são improvisados,muitas vezes perigosos,com obstáculos,fios,estádios lotados,muita gente na trajetória de aproximação ao solo. Se a segurança em terra for falha ou inexistente,a tendência da criançada é correr de encontro à aeronave quando avistam o Papai Noel acenando a bordo. O rotor de cauda,pequeno e rápido é quase invisível e já causou muitos acidentes em eventos de qualquer espécie.

 
No final da década de 80 preparava-me para pousar numa barranca do Rio Madeira em Porto Velho,Rondônia, transportando um mal humorado Papai Noel emplastado de suor com sua grossa fantasia debaixo do calor sufocante,quando uma multidão infantil descontrolada pela excitação avançou contra o helicóptero. Precavido,aterrizei no limite,na margem,deixando o rotor de cauda em posição segura sobre o rio,sem possibilidade de ser alcançado,mas o indivíduo que fazia o papel do bom velhinho assustou-se com a possibilidade de ser cercado pela criançada e recusou-se a sair do aparelho enquanto não houvesse proteção policial... Pediu-me que decolasse de volta ao aeroporto e embora tentasse convencê-lo a não decepcionar as crianças,foi irredutível e portou-se de forma deselegante,irritado. Pessoa errada na função errada... Diante dos decepcionados olhinhos decolei com cuidado para trás e voltei para a base só completando a missão quando a PM cercou a área para o sensível bom velhinho que não gostava de crianças por perto.

 
Mas meu dia foi ganho quando,missão cumprida,turbina desligada,eu e meu irascível passageiro nos dirigimos à sala do hangar do governo. Lá,aguardando provavelmente desde o primeiro desembarque recusado no local da festa,um garotinho de uns oito anos que esperto,deduzira que o Papai Noel voltara para o aeroporto e para lá se dirigiu na esperança de um fantástico encontro só para ele e seus pedidos.

 
Para meu constrangimento o sujeito nem sequer olhou para a criança,que estasiada,tinha os olhos esbugalhados de emoção. O homem largou o corpo no sofá,resmungando e foi jogando longe botas e...a barba! Olhei desolado para o menininho. Seu sorriso foi murchando,o brilho nos olhos sumiu e senti que ele iria chorar. Mas Rondônia é terra de valentes,desbravadores,e a reação foi na medida para a situação. O garotinho sustou o choro,estufou o peito e com toda a raiva do mundo ao descobrir que fora enganado,que aquele homem era uma farsa,que não era o verdadeiro Papai Noel,disparou bem alto:

 
-VIADO!!!

 
E saiu batendo os pés,deixando o marmanjo desconcertado e eu de alma lavada...