domingo, 24 de abril de 2011

Os Inconfidentes,o Comboio da Morte e o Toniquinho:o mito relembrado e os heróis esquecidos

Nas comemorações do dia de Tiradentes, várias homenagens foram feitas aos inconfidentes,sendo sepultados no Panteão, cerca de 200 anos após suas mortes, José de Resende Costa, João Dias da Mota e Domingos Vidal de Barbosa, trazidos de África para onde haviam sido degredados. Nossos pracinhas, enterrados em Pistoia, também vieram da Itália há muito. Não pude deixar de lembrar de cerca de uma centena de brasileiros esquecidos,que provavelmente ainda se encontram sepultados em solo africano, em Dakar, Senegal e Orã, na Argélia, já há quase 100 anos, jovens voluntários da Missão Médica Militar Brasileira que seguiram no vapor La Plata e do DNOG, Divisão Naval de Operações de Guerra, a contribuição de nosso país ao esforço de guerra aliado em 1918.

Nada encontrei acerca do destino dos restos desses brasileiros que passaram por terrível padecimento no comboio que, em 36 dias atravessou do Rio de Janeiro até Marselha, na França, prostrados em condições desumanas devido às febres causadas pelo vírus da gripe espanhola e outras doenças desconhecidas adquiridas numa escala em Freetown, na Serra Leoa e também as trazidas por recrutas senegaleses embarcados em Dakar. A participação brasileira na primeira guerra mundial foi um desastre, com material inadequado e sem a competente organização,um ato político irresponsável que lançou nossos homens numa acidentada travessia do Atlântico onde a tragédia da improvisação, privações e doenças ceifaram 110 vidas. Mas foi uma atuação real,de sacrifício, ao atender o chamado da pátria, diferente da Inconfidência, apenas uma representação atual, muito comum em todos os países, que recriam seus heróis para fins políticos. Os inconfidentes eram apenas um grupinho de proprietários abastados que queriam fugir de impostos e poetas sonhadores que pensaram e falaram demais e nunca chegaram a agir, sendo esmagados de forma cruel e desmedida pela coroa portuguesa como era de praxe na época. Nem mesmo nacionalistas eram, apenas uma revolta local visando benesses particulares...

Meu interesse pelo comboio da morte surgiu há muito,por causa do Toniquinho. Essa intimidade toda com o escritor, jornalista, deputado classista, Sr Antonio Benedicto Machado Florence deve-se ao fato de eu ter a honra de ser seu "quase" conterrâneo, crescemos na mesma cidadezinha do interior de São Paulo -com diferença de meio século- mas ambos ainda nos tempos em que televisão, celular, internet nem mesmo eram temas de ficção científica e nos condenavam, a princípio,a uma vida sem maiores desafios e aventuras. Consegui as minhas, mas Toniquinho superou a todos, esteve em todos os lugares, em todos os tempos e nascido em 1901, até hoje, décadas após sua morte, ainda causa discussões na cidade de Pinhal, devido a uma substancial doação deixada para a criação específica de uma Casa da Cultura.

Infelizmente é apenas por isso que têm sido lembrado, embora mesmo a visita em 1949 do Presidente da República, Eurico Gaspar Dutra à cidade, tenha sido obra sua, amigo pessoal que era do General. Vamos encontrar o nosso conterrâneo até na viagem pré inaugural da aviação comercial no Brasil, a bordo do hidroavião alemão "D-1012", posteriormente batizado de Atlântico, realizado em 1º de Janeiro de 1927, comandado pelo Capitão von Clausebruch e como passageiro entre outros o Ministro dos Transportes Dr. Victor Konder, numa viagem de demonstração Rio-Florianópolis, Toniquinho como jornalista convidado. Participou também da Revolução Constitucionalista de 1932 ao lado do General Euclydes de Figueiredo. Foi autor de romances como BoçorocaO Desembargador Ruival e de peças teatrais.

Mas nada,em sua produtiva e movimentada vida, supera a primeira grande aventura: com apenas 17 anos, era um dos 31 soldados voluntários do contingente de segurança da Missão Médica Militar Brasileira, embarcados no vapor La Plata,tendo participado e sobrevivido de corpo e mente, a essa dura prova que foi o Comboio da Morte. Mas companheiros seus, homens de semelhante fibra e potencialidade podem estar esquecidos sob as areias africanas, tolhidos em sacrifício no início de suas vidas,no cumprimento do dever de cidadão. O Brasil,que se crê entre os vencedores da Primeira Guerra Mundial, está entre os que mais perderam...